sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Saudade do Comandante Rolim

Texto publicado na revista Hotelnews

Como não havia café da manhã, nem almoço ou jantar, nos voos que realizei com a minha filha, recentemente, fui contando a ela como era bacana viajar de avião tempos atrás. 






Ela não quis o pacote com duas bolachas (oferecido com desafeição), porque a fez lembrar a hora do chá do hospital, quando o seu pai operou. Contei a ela que, após a decolagem, a gente começava a sentir aquele cheirinho bom de comida saindo do forno que nos trazia aconchego, depois de pararmos nossas vidas e as entregarmos à tripulação.

Como não havia sabonete nos toaletes, fui massageando as mãozinhas dela com álcool gel (que carrego na bolsa), contando que a gente costumava ganhar lencinho com cheirinho bom!

Como estranhamos o encosto estar duro, como uma tábua de passar roupa, e a justificativa da comissária de que as novas aeronaves eram assim mesmo, contei a ela que, mesmo em viagens curtas, na ponte-aérea São Paulo-Rio de Janeiro, tínhamos direito a um travesseirinho.

Quando o comissário ameaçou meu marido de que ele teria que trocar de lugar se não soltasse sua máquina fotográfica (porque não havia espaços nos compartimentos acima de nossos assentos e ele já havia sido roubado em outro voo), expliquei à minha filha que quando embarcávamos em um avião, as comissárias (antigas aeromoças) eram simpáticas e pareciam ter saído de um desenho da Disney. E, apesar das mesinhas não costumarem estar sujas, sempre sorriam ao nos atender ao invés de torcer o nariz.

Como o entretenimento de vídeo e áudio a bordo não estava funcionando, fui me prolongando, contando a ela que havia um homem visionário, que enxergava seus consumidores como seres humanos (o que lhe conferia um doutorado em marketing) e que ele recebia seus passageiros, todos os dias, bem cedinho, com pão de queijo quentinho, sucos e um tapete vermelho. Então, fechei os olhos e revivi um momento mágico ao lado do comandante Rolim Amaro, fundador da Tam:

Era o nosso primeiro grupo gastronômico na França e tive que administrar um caos, por conta de um overbooking, previamente anunciado. A Tam avisou o nosso operador em Paris de que teria lugares para, somente, metade do grupo embarcar de volta ao Brasil, no dia seguinte. Não foi fácil, o grupo estava em total estado de encantamento com a semana mágica que haviam passado, degustando sabores extraordinários em castelos e restaurantes estrelados e trocaram esta sensação pelo   estresse com os compromissos que tinham no Brasil, filhos, reuniões, prazos e a condição imposta que lhe tolhia o direito de ir e vir. Embarquei parte do grupo, ficando com a outra parte, mais uma noite em Paris. Tanto os que embarcaram, quanto os que ficaram, não queriam conversa comigo.

Assim, na volta ao Brasil, decidi contar ao comandante Rolim (sim, ele era acessível), sobre o estado de espírito alterado do grupo, após um ano de planejamento e muito trabalho, a fim de proporcionar momentos inesquecíveis a essas pessoas, o que havia sobrado na lembrança era o descontentamento. Imediatamente, o comandante marcou um almoço na sede da companhia com o grupo todo - enviando, inclusive, bilhetes aéreos aos que moravam fora de São Paulo. Serviu o cardápio que era oferecido na primeira classe dos voos, com direito a muito caviar e champagne e abraçou cada um dos vinte integrantes do grupo.

Ao final do almoço, levantou-se e pediu desculpas pelo overbooking. Simples, clara e humildemente assim. Deixou todos os convidados boquiabertos e sem ação! Entregou um livro autografado a cada um dos passageiros que haviam chegado desconfiados e prontos a tecer sérias críticas sobre o que vivenciaram e de repente, tornaram-se os melhores amigos do comandante.

Acredito que, até hoje, essa seja uma doce recordação na lembrança de todos e, principalmente, na minha pela oportunidade que nos deu em poder resgatar os melhores momentos de nossa viagem.

Abri os olhos e, ainda com a boa imagem do comandante, notei que ao menos continuavam a oferecer a bala (só a balinha mesmo, sem o sorriso), mas minha filha não quis. Disse que grudava nos dentes! 

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